Tuesday, April 05, 2005

Henriqueta

Ao ver a Júlia Pinheiro a apresentar a Quinta das Celebridades, é algo difícil imaginá-la como autora de crónicas. Mas é verdade.

Amizades coloridas (por Júlia Pinheiro na Máxima de Abril 2005)

Henriqueta é uma jovem comum. Tão comum que se confunde com o que a rodeia. Embora seja muito apreciada profissionalmente, é frequente ser esquecida nos convites para os jantares de empresa, não tem namorado e tem um
reduzido número de amigos. Com quase 30 anos, Henriqueta não é uma mulher sedutora. A favor dela joga apenas a imensa doçura de uns olhos suplicantes. Não sei como é que as coisas começaram, mas a Henriqueta tem o coração destroçado. Farta de não ter ninguém na vida dela, humilhada pelo sucesso das amigas, cansada de ser a eterna "gata borralheira", Henriqueta aceitou aquilo que sabia ser um risco. Henriqueta queria ser cortejada e amada, hoje não é namorada nem noiva. Henriqueta hoje tem uma designação peculiar. Ela é uma "amiga colorida".
O amigo dela não é um homem cruel. É apenas alguém que não quer amor. Está muito mais interessado em sexo ocasional, alguma cumplicidade e nenhuma consequência. Nem sequer pode ser acusado de ter enganado a Henriqueta.
Como ela própria relata, antes de ter "colorido" (tem de se arranjar novas palavras para estes novos relacionamentos), ele avisou-a que não desejava mais nada. Uma noite divertida, dois corpos quase anónimos, mais nada.
Henriqueta aceitou. Fitando aqueles olhos cheios de desilusão compreende-se a razão. Todos queremos ser amados. Ainda que seja por uma noite. Não é a primeira vez que ouço histórias destas. O fenómeno está longe de ser novo. Eu não sabia é que já tinha uma expressão tão corrente. A decepção de Henriqueta é mais um acto de imaturidade. Mas as mulheres, em matéria de coração, são absolutamente imaturas e inconsequentes. Henriqueta quis jogar um jogo tradicionalmente masculino. Conquista, consumação e abandono é uma tripla de ampla aplicação no universo dos homens. Muitas mulheres têm-se esforçado por alcançar este desempenho desprendido. Não têm grande reputação junto dos companheiros de jogo. Eles acham-nas frias e calculistas. Por isso, sempre que podem "agarram" uma Henriqueta. Doce, carente e disponível.
O problema chega depois. As expectativas dela ultrapassam largamente aquilo que ele está disposto a dar. Qual será o resultado deste combate de forças?
Não é difícil antever o desfecho. Ele vai conseguir fugir às tímidas investidas desta "amiga" e ela vai encolher-se dentro da sua concha. No meio do relato desta jovem confusa, caiu uma palavra que ficou a pedir reflexão: "Eu quis ser moderna", disse a Henriqueta. Na altura, a palavra provocou-me uma reacção, mas desvalorizei. Achei mais importante explicar que a auto-estima dela não tem de estar relacionada com a atenção que os homens lhe dão. Mas agora, caiu-me no colo, agarrou-se aos meus lábios e estou a saboreá-la com cuidado. E desconfiança. Os códigos de comportamentos de uns não servem para todos. A maior liberdade de todas é vivermos de acordo com os nossos valores. Essa é a única verdade, pela qual vale a pena batermo-nos e magoarmo-nos. Henriqueta não é uma menina moderna, nem tem de o ser. Não tem de pedir desculpa por isso. Só precisa de um ombro. Quem tem culpa na desilusão dela? O mundo que entroniza o discurso delirante e licencioso
de O Sexo e a Cidade? As amigas que instituíram um novo código de consumo: roupas, viagens e homens? E agora, Henriqueta?

2 comments:

laura said...

pois é, e agora? um dia de cada vez, raio de sol, ou todos os dias de uma só vez?

Raio_de_Sol said...

Porque é que sou tão indecisa?! :)