Com uma pala à frente dos olhos

Há dias, o sargento Luís Gomes saiu em liberdade após ter sido preso pelo sequestro da filha. Recorde-se que aos três meses Esmeralda foi entregue para adopção a um casal pela mãe biológica. Viveu até aos cinco anos com uma família que adoptou como sua. Até aparecer o pai biológico a dizer que também tinha direitos sobre Esmeralda. O caso está longe de chegar ao fim, mas li uma notícia no Público que me faz pensar e chegar a temer quem detém o poder jurídico neste pais. Dizia Fernando Silva, professor de Direito Penal: “diz-se no acórdão que o sargento Luís Gomes ‘cortou com o passado da criança’. O passado dela, aos três meses, era de abandono; a menina não foi sequestrada, mas entregue pela mãe biológica, que detinha o poder paternal, àquele casal; e ‘o mundo fictício’ que o acusam de ter criado é um ‘mundo’ de afecto e de amor que os juízes desembargadores chegam a censurar”. É triste quando não se consegue tirar a pala dos olhos, que obriga a seguir sempre a direito por um caminho traçado por leis, sem espreitar a paisagem à volta, o lado humano neste caso de uma criança com apenas cinco anos.